Robert Wilson e o gif animado

Roberth Wilson, conhecido diretor de teatro, também faz uma aparição importante dentro do campo das novas tecnologias nas artes visuais. O artista, em 2004, foi convidado por Ali Hossaini (artista americano, envolvido com novas mídias e televisão) para uma residência no canal LAB HD, um canal que, de julho de 2004 a dezembro de 2005, serviu para divulgar e dar espaço para trabalhos de video arte e filmes experimentais patrocinados pela Voom HD Networks. Robert Wilson, então, em colaboração com celebridades como Brad Pitt e Dita Von Teese, elaborou uma série de vídeos onde as imagens aparecem quase paradas, em alta definição, assemelham-se a fotografias. Essa série foi chamada de Voom Portraits, em referência ao canal que as patrocinou. Seus vídeo-retratos podem durar de 30 segundos até 20 minutos, mas são editados para ficarem em loop, ou seja, de forma que o último quadro da gravação se conecte com o primeiro, fazendo com que o vídeo não tenha começo nem fim, se reproduzindo de forma infinita.




Os vídeos-retratos de Robert Wilson são peças únicas integradas à televisão de tela plana HD, podem ser encontrados na internet. A perda é grande, pois quando apresentados em sites como youtube, seu efeito de loop desaparece, e a imagem passa a ser registrada de forma finita. Os retratos de Wilson, além de remeter ao teatro, cinema, literatura e outras referências que ele próprio aponta, também fazem lembrar um formato conhecido na internet: o gif animado. 

O gif animado consiste, na verdade, em um formato de imagem (da mesma forma que bitmap, jpeg, png, etc) que armazena uma série de imagens salvas em um só arquivo, e as reproduz seqüencialmente. Quando esse arquivo reproduz essas imagens, nosso cérebro lê essas informações como sendo uma coisa só, completando as partes que faltam e interpretando a troca de imagens como um movimento. Uma caraterística do gif animado é sua reprodução em loop, infinita. Quando presenciei a exposição de Robert Wilson no Santander Cultural de Porto Alegre, em setembro de 2010, minha primeira impressão foi como os trabalhos se assemelhavam a gifs animados e (ainda que não fosse o caso) como era possível transformar um arquivo banal de imagem amplamente usado na internet em um trabalho de artes visuais. Ao contrário de um vídeo, um arquivo de imagem gif é extremamente leve e fácil de armazenar e compartilhar na rede. As possibilidades de uso para um gif animado na internet são infinitas e, quando bem trabalhadas, podem resultar em um trabalho capaz de conversar com diversos campos das artes visuais.

O trabalho de Wilson, ainda que não seja um gif animado, mostra como as idéias de imagem paradas e em movimento podem ser unidas e, por exemplo, criar um campo entre a fotografia e o vídeo; pertencer, ao mesmo tempo, ao trabalho material e exclusivo e à visualização aberta da internet. A exposição de Wilson, orientada por um trabalho da cadeira de Laboratório de Artes da UFRGS, inspirou a criação de trabalhos que remetessem às obras expostas. Minha proposta foi criar uma relação do trabalho de vídeo de Wilson com os populares gifs animados. um trabalho simples mas que tenta, de alguma forma, combinar grandes mídias com pequenas produções, aproveitando as possibilidades da internet. A idéia foi capturar um único momento e repetí-lo infinitamente, como nos quadros da exposição. Escolhi um dos primeiros trechos do livro Lolita, de Vladimir Nabokov, que, quando li pela primeira vez, ficou ecoando em minha mente, como um gif animado.

_______________________________

Lo-li-ta: a ponta da língua descendo
em três saltos pelo céu da boca para tropeçar
de leve, noterceiro, contra os dentes.
Lo. Li. Ta.



Os outros trabalhos criados para a cadeira de Laboratório de Artes da UFRGS, ano 2010, podem ser conferidas aqui: http://laboratoriodeartesufrgs.blogspot.com.br/